Notícias

Deterioração do crédito e nova regra fiscal podem levar BC a cortar Selic a partir de maio, diz BofA

Projeção anterior era que flexibilização fosse começar em agosto; nova estimativa é que a taxa de juros caia para 11,00% no final de 2023

As condições de crédito para empresas e pessoas físicas no Brasil têm se deteriorado rapidamente – tendência que ficou explícita no início do ano com a crise das Lojas Americanas – e esse fator, aliado à expectativa de um novo arcabouço fiscal palatável ao mercado, deve permitir que o Banco Central antecipe a flexibilização de seu ciclo de juros já na reunião do Copom em maio. A projeção está em relatório do Bank of America (BofA) divulgado nesta terça-feira (21).

A estimativa é que o BC faça um corte de 25 pontos-base na reunião de maio, seguido de cortes sucessivos de 50 p.b. nas reuniões seguintes. Antes, o BofA trabalhava com um expectativa de que as quedas na taxa Selic só se dariam a partir de agosto.

A nova estimativa é que a taxa básica de juros caia para 11,00% no final de 2023 (ante projeção anterior de 11,75%) e que recue para 9,5% no encerramento de 2024.

O banco reforça que esse cenário está diretamente relacionado aos termos da proposta de acabou fiscal, que ainda não são conhecidos. “Embora a nova regra fiscal ainda não tenha sido aprovada no Congresso, houve uma redução da incerteza em relação às contas fiscais, o que deve alterar a avaliação da diretoria sobre o balanço de riscos”, comenta o banco em seu relatório.

Na reunião do Copom desta semana, o banco espera que o comunicado destaque mostre projeções de inflação para baixo, em função da contínua deterioração da atividade, da desaceleração do mercado de trabalho, das preocupações com as condições de crédito interno e da deterioração do setor bancário externo.

Crédito encolhendo

Sobre as condições de crédito, o BofA destaca que esse mercado enfrentou muitos desafios na última década no Brasil, incluindo políticas econômicas alternadas, um impeachment e a própria pandemia.

Após atingir o pico de 54% do PIB em dezembro de 2015, o estoque de crédito encolheu em termos reais por três anos consecutivos, lembra o banco, devido à pior recessão da história brasileira. Somente em dezembro de 2022 é que o crédito total conseguiu voltar ao seu nível máximo. No entanto, nos últimos meses surgiu uma preocupação crescente com um aperto de crédito, principalmente após o episódio da Americanas.

Mas o relatório destaca que o crédito corporativo como um todo tem mostrado sinais de desaceleração, após um aumento de fluxo propiciado por medidas governamentais durante a pandemia. De fato, a penetração do crédito corporativo começou a crescer no primeiro semestre de 2020, passando de 20,4% do PIB em março para 23,5% em dezembro daquele ano.

E, embora as taxas de inadimplência já estivessem diminuindo antes de 2020, as medidas permitiram que essa tendência continuasse mesmo em meio à situação econômica negativa. As taxas de pagamento em atraso das micro, pequenas e médias empresas (MPME’s) caíram de 4,16%, em maio de 2020, para 1,91% em dezembro de 2020, segundo dados do BC.

Mas a situação mudou com o aumento da inflação e o consequente ciclo de juros restritivos implantado pelo BC. O aumento do endividamento das famílias começou a impactar os resultados financeiros das empresas nos últimos meses.

Em dezembro de 2022, havia 6,4 milhões de empresas com pelo menos um compromisso vencido e não pago , segundo dados da Serasa Experian. Desse total, cerca de 89% correspondiam a micro e pequenas empresas. Esta categoria também representou 71% do total de falências até o ano passado.

Em janeiro de 2023, houve aumento de 9 pontos-base na inadimplência das empresas e o patamar atingiu 1,63%, impulsionado principalmente pelas MPME’s.

Os empréstimos a pessoas jurídicas caíram 1,1% em janeiro, com empréstimos a grandes empresas recuando 1,5 % em janeiro e par as MPMEs em 0,7%. Os novos empréstimos para empresas diminuíram 26,2% no comparativo mensal.

Os spreads também aumentaram desde o início do aperto monetário e aceleraram de 8,6 p.p. em dezembro de 2022 para 10,4 p.p. em janeiro de 2023.

Em meio à redução do crédito às empresas, o mercado sofreu um abalo no início do ano quando a Americanas revelou inconsistências nos lançamentos contábeis de contas a pagar em vários anos. A empresa publicou uma lista de todos os credores várias semanas depois e divulgou uma dívida que totalizava mais de R$ 41 bilhões.

Um dos efeitos disso foi uma queda de 1,28% no Índice IDA da Associação Brasileira das Instituições dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) – que representa os preços de mercado das carteiras de títulos privados com as debêntures mais líquidas. Ainda que, a princípio, o indicador estivesse fortemente ligado ao caso da Americanas, a percepção de risco se alastrou nas semanas seguintes.